Fundação de Medicina Tropical recebe Menção Honrosa do Ministério da Saúde por inovação no tratamento preventivo da tuberculose

Reconhecimento pelo pioneirismo na atuação de enfermeiros na prescrição do tratamento preventivo da tuberculose em pessoas vivendo com HIV no Amazonas
A Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) recebeu uma Menção Honrosa do Ministério da Saúde por sua contribuição significativa às ações de vigilância, prevenção e cuidado no controle da tuberculose no Brasil. O reconhecimento foi concedido pela Coordenação-Geral de Vigilância da Tuberculose, Micoses Endêmicas e Micobactérias não Tuberculosas (CGTM), vinculada à Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA), e destaca a experiência intitulada “A incorporação do enfermeiro no tratamento da infecção latente pelo Mycobacterium tuberculosis em pessoas vivendo com HIV: um estudo quase-experimental”.
De acordo com o Ministério da Saúde, o trabalho se destacou pela abordagem inovadora da infecção latente pelo Mycobacterium tuberculosis (ILTB) e pela ampliação da oferta do Tratamento Preventivo da Tuberculose (TPT), demonstrando potencial de replicabilidade e impactos positivos na saúde pública. A iniciativa está alinhada aos pilares do Plano Nacional pelo Fim da Tuberculose como Problema de Saúde Pública (2021–2025) e aos princípios do Programa Brasil Saudável.
Transformando diretrizes em prática no SUS
O infectologista Dr. Marcelo Cordeiro, pesquisador da FMT-HVD, explicou que o projeto foi pioneiro ao transformar recomendações nacionais em uma prática operacional dentro do SUS.
“A prescrição do tratamento preventivo da tuberculose por enfermeiros já é prevista nas recomendações nacionais, mas nosso estudo foi o primeiro a operacionalizar essas diretrizes no contexto real da rede pública, avaliando o impacto dessa atuação na prática assistencial”, afirmou o pesquisador.
Segundo Cordeiro, a experiência já começou a ser incorporada ao protocolo estadual de cuidado e manejo do TPT no Amazonas, fortalecendo a adesão às políticas do Ministério da Saúde e incentivando sua adoção em outros estados da Região Norte.
“Os resultados obtidos podem reforçar a recomendação nacional dessa estratégia e incentivar sua adoção em outros contextos, ajudando a superar as barreiras operacionais que ainda limitam a descentralização da prescrição do TPT no país”, acrescentou Marcelo.
Viabilidade em comunidades ribeirinhas e municípios pequenos
Um dos pontos fortes do modelo, segundo o pesquisador, é a sua viabilidade em áreas remotas, como municípios de pequeno porte e comunidades ribeirinhas, onde há escassez de recursos humanos e dificuldades logísticas.
“O modelo demonstra ser factível justamente por aproveitar recursos humanos e operacionais já existentes na rede, o que reduz custos indiretos e permite um início mais ágil do tratamento preventivo”, explicou Marcelo.
Diversidade amazônica e futuras pesquisas
A pesquisa foi conduzida na FMT-HVD, instituição que atende pacientes urbanos, ribeirinhos e indígenas de todas as regiões do Amazonas. Embora o método tenha sido quantitativo, os resultados refletem essa diversidade.
“Estudos futuros, com abordagem mais ampla e qualitativa, serão importantes para explorar de forma mais profunda as barreiras culturais, linguísticas e logísticas que afetam o acesso ao tratamento preventivo nessas populações”, destacou Cordeiro.
Desafios e perspectivas de consolidação da política
Para transformar essa experiência em uma política consolidada, o infectologista destaca a necessidade de fortalecer a integração entre estados e municípios e reconhecer formalmente a atuação do enfermeiro na prescrição do TPT.
“Há um marco legal que respalda essa prática, composto por protocolos do Ministério da Saúde, pareceres do COFEN e resoluções que garantem ao enfermeiro a atuação integral na prescrição e acompanhamento do TPT”, afirmou Marcelo Cordeiro
.
“Mas é essencial assegurar formação continuada, supervisão técnica e integração entre os níveis de atenção para garantir a qualidade e sustentabilidade da assistência.”
Reconhecimento reforça o compromisso histórico da FMT-HVD
Para o Dr. Marcus Guerra, Diretor-Presidente da FMT-HVD, a premiação reconhece um esforço coletivo e reafirma o papel estratégico da instituição na resposta à tuberculose e ao HIV na Amazônia.
“Nós já vivenciamos há muito tempo o problema da coinfecção HIV/tuberculose. Esse trabalho, que incorpora mais um profissional de saúde no cuidado de pessoas vivendo com HIV infectadas pelo Mycobacterium tuberculosis em sua forma latente, é fundamental. Mesmo sem manifestação clínica, essa infecção precisa ser tratada, pois pacientes com HIV e tuberculose são os que mais frequentemente evoluem a óbito”, destacou.
“Temos uma rede ainda escassa de profissionais, especialmente médicos na área de pneumologia sanitária. Por isso, a incorporação dos enfermeiros nessa atividade é de extrema importância. O reconhecimento desse trabalho pelo Ministério da Saúde mostra o acerto da iniciativa conduzida pelo grupo de registro de micobacterioses da Fundação de Medicina Tropical”, completou.
Com mais de cinco décadas de atuação na saúde pública, Dr. Marcus Guerra recorda que a tuberculose permanece como um dos maiores desafios epidemiológicos do Amazonas.
“Estou na saúde pública há 52 anos e, quando entrei como infectologista, em 1974, o estado já figurava entre os três com maior número de notificações de tuberculose no Brasil. Infelizmente, esse cenário pouco mudou em cinco décadas”, observou Guerra.
“Temos um problema grave de saúde pública em uma doença de transmissão fácil e fortemente associada às condições de pobreza em que vive grande parte da população amazônica. É fundamental que as ferramentas disponíveis sejam efetivamente colocadas à disposição dessas comunidades vulneráveis”, concluiu o Diretor.
Marco simbólico e técnico para a pesquisa amazônica
O reconhecimento do Ministério da Saúde é, segundo Cordeiro, um marco simbólico e técnico para a pesquisa científica na Amazônia.
“Essa Menção Honrosa reforça que é possível produzir evidências de alto impacto a partir da implementação local de políticas públicas já recomendadas nacionalmente, transformando diretrizes em resultados concretos para o SUS”, destacou Cordeiro.
A premiação amplia a visibilidade institucional da FMT-HVD e da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), valorizando o papel do enfermeiro e fortalecendo o compromisso com a eliminação da tuberculose.
O próximo passo da equipe é a publicação científica do estudo completo e a disseminação dos resultados em outros fóruns e periódicos, promovendo ciência aberta e estimulando a incorporação das evidências na prática assistencial.
